crítica
"I'm ready", canta Billy Corgan no primeiro concerto da sua primeira digressão a solo. A Aula Magna, em Lisboa, recebeu de braços abertos a voz dos Smashing Pumpkins, livre das pressões do grupo e disponível para o público. Durante cerca de uma hora e quinze minutos, Cowboy Bill surpreendeu o público e conseguiu mesmo levá-lo ao rubro, num quente primeiro encore.
No palco, o painel de luzes que alternava entre as cores psicadélicas e o neutro preto-e-branco permitia ver a sua silhueta esguia a contorcer-se sobre a guitarra eléctrica, enquanto suspendia a respiração dos fãs atentos ao seu talento. Na voz, trazia a melodia que reconhecemos no longíquo "Landslide", incluído em "Pisces Iscariot" (1994), ou em quase todo álbum "Adore", de 1998. Torna-se impossível não relembrar os Smashing, porque Billy sempre foi o coração e a alma da banda (apesar da sua insistência em não regressar ao passado, alguns acordes de "Today" provocaram o delírio no público). Quanto aos Zwan, parece que foi apenas uma experiência passageira... uma espécie de pesadelo mascarado de sonho colorido.
Hoje está mais maduro e revela a sua intimidade em cada canção. Um dos melhores momentos do concerto? Sem dúvida, "To Love Somebody". A cover dos Bee Gees é uma das canções mais aguardadas do álbum "The Future Embrace", que só pode ser comprado a partir de 21 de Junho, porque conta com a participação de Robert Smith, vocalista dos The Cure. Ao vivo, o público parece ter ficado simplesmente sedado perante a combinação do doce sussurro de Billy com as palavras "you don't know what it's like/to love somebody".
"Obrigado" é a única palavra que sabe dizer em português e, quando apresenta "Now (And Then)" ao público, explica que é "outra canção nova" e ri-se (não são todas?). O som também é novo, distante de quase tudo o que Billy nos mostrou antes. A high-tech invadiu o palco e a mudança pode ser difícil de aceitar pelos fãs mais conservadores, que encontram na guitarra eléctrica que Corgan troca inúmeras vezes o som instrumental mais "real" ou talvez menos maculado pelas novas tecnologias.
No final, Billy regressa duas vezes para acenar o seu adeus "to dear ol' Portugal", onde as mulheres têm um olhar triste e os homens são sensíveis (como ele próprio conta no seu site). É tempo de partir para percorrer o mundo e revelar a sua música. Se Billy é uma espécie de anjo vestido de negro, está mais livre porque voa sem asas.
Ana Filipa Gaspar
"The Future Embrace" vai estar à venda a partir de 21 de Junho
outras críticas
Aqui fica a opinião de outras pessoas porque quem está num mesmo concerto nem sempre ouve a mesma música...
"Billy Corgan em Lisboa: Fraco como a cerveja americana" por Filipe Rodrigues da Silva
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