cinecrítica
Inland Empire, o mais recente filme de David Lynch, é uma alucinação. O que não surpreende, dado tratar-se de Lynch. Laura Dern, mulher do músico Ben Harper, é a protagonista do filme dentro do filme. É ela quem alucina connosco, que estamos do outro lado do ecrã e não sabemos como encaixar todas as peças que o filme nos apresenta. É como se estivessemos diante de um gigantesco puzzle e, mentalmente, nos esforçássemos por organizá-lo. Mas é um esforço inútil, porque o puzzle parece, afinal, ser desdobrar-se em vários outros puzzles, ao ponto de nos perdermos em tentativas inúteis de compreender um todo que provavelmente não existe. Porém, o que intriga o espectador e transforma os trabalhos de Lynch em "must see", mesmo quando não estão ao seu melhor nível, é que, pontualmente, há uma pequena peça do puzzle que se encaixa e, na nossa mente, ocorre um pequeno clique. "Ah, curioso...", ficamos nós a pensar, porque encontramos um sentido subtil em algo que não parecia ter sentido algum.

Voltando a Laura, ela é Nikki Grace, uma actriz que procura regressar ao topo e que é escolhida para interpretar a protagonista de um promissor filme. O que Nikki não sabe é que o papel de Susan Blue se vai confundir com a própria história da sua vida. Lendas e maldições polacas são apresentadas por personagens estranhas que, através do olhar de Lynch, se tornam ainda mais bizarras. São três horas de pura alucinação, ideias que de repente se atravessam diante de nós e depois desaparecem, histórias que se entrelaçam, perspectivas subjectivas e confusas... No fim, podemos escolher a interpretação incompleta que, de algum modo, a nossa mente fez ou, por outro lado, comprar um bilhete para a sessão seguinte...
Em poucas palavras
O melhor: o clique que, ocasionalmente, dá-se na nossa mente, na esperança de, afinal, existir ali algum sentido.
O pior: são três longas horas que, eventualmente, se tornam muito desconfortáveis.
3 estrelas e 1/2
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