4 de fevereiro de 2007

Cinema | Quando o livro entra pelo filme adentro

cinecrítica

O meu primeiro contacto com "Stranger Than Fiction"/"Contado Ninguém Acredita" (2006), de Marc Forster, foi o respectivo trailer. E, desde logo, achei que a ideia de o protagonista de um livro ser uma pessoa real e, a dada altura, começar a ouvir uma voz que narra a sua vida (ou seja, o narrador omnisciente e omnipresente de um livro) era genial. Mas todos sabemos que os trailers são, por vezes, uma desilusão: ou porque contam a história toda e o filme não acrescenta grande coisa, ou porque são simplesmente uma fraude e prometem-nos outro filme. Em relação ao "Stranger Than Fiction", se adoraram o trailer como eu, podem ir vê-lo descansados. Porque o filme é tudo aquilo e muito mais.

Harold Crick (Will Ferrell) tem uma vida numericamente certinha até que, um dia, a escritora Kay Eiffel (Emma Thompson) decide virá-la do avesso. Começa ela a narrar, começa ele a ouvir e, a dada altura, diz: "Little did he know that this simple seemingly innocuous act would result in his imminent death". O QUÊ? Eu vou morrer? é o que basicamente Harold grita, olhando para o céu, junto das outras pessoas que, tal como ele, estão à espera do autocarro. A única diferença é que estas últimas pensam que Harold é doido, a falar sozinho, aos berros, no meio da rua, e Harold sabe que não é doido.

Por isso, é mesmo verdade que "contado ninguém acredita". Quem poderia imaginar que alguém, a viver uma semi-existência pacata, podia de repente tornar-se num protagonista de um romance, com todas as acções e acontecimentos da sua vida a serem ditados por um narrador omnisciente e omnipresente que, num determinado momento, anuncia a sua morte? É genial, o argumento partiu desta ideia e transformou-a numa história com princípio, meio e fim, coerente, divertida, entre a tragédia e a comédia. E a cereja no topo deste bolo (alusões a pastelaria são mais do que adequadas) é a música - a banda sonora de "Stranger Than Fiction" merece ser ouvida com atenção.


Em poucas palavras:

O melhor: A ideia-chave do filme é genialmente desenvolvida
O pior: Nada a apontar

4 estrelas e 1/2

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