9 de julho de 2008

Crónica | À ilustre nação do Irão

Hoje o mundo está preocupado porque o Irão está a fazer testes com mísseis capazes de atingir Israel. De resto, concordo com esta preocupação. Mas, por uma questão de proximidade (neste caso, cultural talvez), como blogger, destaco a notícia de que ter um blogue no Irão pode vir a ser considerado crime capital.
Isto significa que há mais um país no mundo a assumir aversão aos blogues, sob a forma de legislação que não deverá ter problema em ser aprovada. É que a nova lei iraniana prevê pena de morte (aquilo que em quase toda a Europa já não existe há algum tempo, mas alguns estados americanos continuam a aplicar) para bloggers e editores de sites "que promovam a corrupção, a prostituição ou reneguem a Deus".
Ora, sabendo a subjectividade inerente a quem julga se há corrupção, prostituição ou renegação de Deus, acho que existe motivo para temermos pela vida dos bloggers iranianos que, na vanguarda dos seus dias, se aventuram pela livre expressão da world wide web. É verdade que crimes há muitos, provavelmente alguns a dois passos de distância do sítio onde nos encontramos, mas nos dias que correm parece inacreditável a recusa de acompanhar a evolução que os poderes políticos, sobretudo de cariz totalitário, insistem em defender. Eles até viajam de avião para o outro lado do mundo, comem MacDonald's e vêem mulheres nuas na televisão, mas isso são coisas dos infiéis e o povo deles, sempre fiel, não pode ser corrompido.
Enquanto escrevo estas linhas, penso que não poderia fazê-lo no Irão... quem sabe o que eu própria pensaria e que condições de vida teria se tivesse nascido no país de Mahmud Ahmadinejad? Só sei que, invariavelmente, franzo o sobrolho aos discursos e atitudes ditatoriais que nos últimos anos têm vindo a assumir relevância em vários pontos do globo. A História diz-nos que, em altura de crise, esse tipo de regimes tem tendência a conquistar o apoio popular. A mim dá-me calafrios só de pensar nas consequências que, em pleno século XXI, alianças totalitárias poderiam ter. E cruzo os dedos para que uma célebre teoria de Einstein (aquela que envolve pedras e paus) não se concretize, pelo menos por estes dias.

Sem comentários: